domingo, 24 de julho de 2011

SINA

No meu semblante, vislumbro:
meus medos, minhas frustrações e temores.
Vejo a vida se esvaindo
saindo, como sangue em dique
estando eu a um clique, talvez
de minha solidez...
(Não estanco, nem líquido nem verve).

O lampejo do meu olho me confunde
não somente pelo brilho.
Mas me transfere pra minha ilusão
minha solidão...
Meu insólito mundo?
Íntimo reduto incolor
que transcende minha mente.

As horas conspiram-se
me impelem ao esquecimento...

Porém ainda não me vejo débil
e nem mortiço...
Minhas veias ainda latejam
e prometem atividade.

Não sei
se mente ou corpo
se aura ou carma
se cura ou ferida
se morte ou vida...

... somente da sina sei.



(Linaldo Oliveira - 24/07/2011)

AFERRO A UMA FLOR

É bonita, transparente e meiga a flor,
tão perfeita, se encaixa em qualquer canto:
num buquê,  num espinho ou mesmo num manto
e no perpétuo trâmite do amor.

Pela rosa bonita que eu decanto
não me canso de escrever em seu louvor;
e mesmo que a solidão me cause dor
não me permito desapontá-la com meu pranto.

Sei que a flor me almeja e compreende
me acompanha na alegria que se acende,
na amargura, na desgraça ou mesmo na sorte,

Pois se nasce pequena, inda em botão,
já me adora com apego ao coração
e me segue a vida inteira (até na morte).

(Linaldo Oliveira - Livro ANVERSO LACÔNICO - Pág,: 73 (1994)).


sábado, 23 de julho de 2011

INCONGRUÊNCIAS


Livro publicado com Apoio Cultural: 
Na última quimera dos meus dias
desvendei meus pesadelos
e deixei-me levar pelo ímpeto
consumido em sofreguidão
na tentativa desenfreada de vencer
ou deter o tempo e o vento
responsáveis pela minha solidez.

Quando julguei-me áureo
minhas crenças estilhaçaram-se
e milhões de pedaços
fincaram-se no chão
como ditames mortais
impregnados de plasma
num abastecimento pleno.

Outra vez busquei razões
na certeza de enlouquecer
ao revelar-me pudico
sem público
sem conspiração com o germes
do meu corpo micro
menos habitado que só
(o que vi foi o caos
meus desejos usurpados
meus amores incitados
meu pensamento inapto
meu destino curto).

Plantei flores estúpidas
em campos invadidos
sonhei com um  Eldorado
numa guerra psicótica
e hasteei ideologias
como um louco
transcendendo o real
repetindo o que foi dito
e chorando como pedras
(apaguei minha mente).

Como numa película viva
entre a retina e névoa
vi minhas utopias desfiguradas
prismatizadas no nada
inames ditaduras
cobrando dependências
invertendo imagens
manipulando veredictos
os quais temi pigmentar
quando ainda podia
deixá-los em preto e branco.

Conservei-me lúcido
por breves anos
descrente da vida
crente da morte
inventando paradigmas
meio desmaterializado
como uma fumaça negra
um gás venenoso
um rosto apagado.

Aviltei meus conhecimentos
exaltei minha hipocrisia
conflitei meus planos
deitando por terra
meus ideais castrados.

Cavei minha cripta
na cemitério meu
onde enterrei meus dias
e num passado fósmeo
meus pesadelos sepultei
desprovendo-me de meus fantasmas
quando os mesmos germinaram
e dores íntimas nasceram.

Na minha psicalgia
sublevei meus reinos
confundi minhas promessas
procurei um amor edaz
indomável como meus dedos
(pequenos fragmentos de carne)
nocentes e curiosos
por prazeres inconcebíveis.

Deixei-me hipnotizar
pela minha psique
tentando achar-me útil
sem preconceitos lânguidos
sem crimes passionais
sem tons esquálidos
sem ser considerado estorvo
ou simplesmente humano.

Ante minhas mentiras
fui receptáculo de escória
pois as leis me condenavam
e cobravam-me o pudor que denunciei.

Mesmo sendo infecundo
prossegui sem me limitar
pisando em sementes férteis
destruindo futuros benéficos
porque tudo o que eu queria
era encontrar meu oásis
no deserto do meu coração
(acéfalo e inconstante)
sem abrir frestas.

Ostentei o dinheiro
logrando minha consciência
aniquilando os empecilhos
ou simples conselhos
que não eram pagos.

Atuei em papéis indivisos
considerando-me capacitado
indócil e orgulhoso
sem lembrar que a altura
é companheira da queda
e que sob meus pés
estavam os mesmos espinhos
que eu havia plantado
com minha arrogância
(a prepotência de um tirano
a insensibilidade de um nebri).

Tentei reconciliar fatos
roubando ideias
sancionando leis
sem me imaginar fugaz
pois as tréguas simples
haviam se tornado lamentos
pelos gritos de minh´alma
corrompida pelo egoísmo.

Cristalizado sem pedestal
cantei e escrevi conceitos
me simplificando apto
como um herege
que pudesse revolucionar infernos
ou luas pálidas
em busca de ladros
em gargantas práticas
que sempre me ovacionaram.

Permaneci nédio
cumprindo a sina paradoxal
que limitava meu ego
não mais jovem e hesitante.

Compus meu "heu"
e cantei meus caminhos
sempre convalescendo
procurei meu interior
a gênese do meu ser
(vi meu primogênito grito
povoado pelas minhas facções
e meus recalques últimos).

Por convicções insólitas
e em busca de perfeição
alimentei abismos
e não encontrei forças
para uma egrégia escalada
ao quedar-me no fundo
como raiz seca
(hipócrita e contrita
traiçoeira e podre).

Sem aptidões heroicas
pequei em contradições
roubando meu espírito
(desleal e vivo
desumano e abruptamente).

Sobrevivi como terra
explorando lamas
na divagação da vontade
julgando e condenando
(anti-social fui)
pálido remanescente
submetido a pretéritos.

Dominado pelo erro
e emulado por fora
invadi a redoma disforme
que revestia minha fortaleza
meu carma disfarçado em palavras
interrogações e vírgulas
e leguei-me covarde
mesmo sabendo que não era o único...


(Linaldo Oliveira - Livro ANVERSO LACÔNICO - Págs.: 55,56, 57, 58, 59 e 60 (1994))

PSICALGIA

No cemitério de minha solidão
enterrei meus pesadelos
minhas vidas, meus sonhos
desprovi-me dos meus fantasmas
meus tormentos e amarguras.
(Feri-me
derramei minhas lágrimas por mim
e paulatinamente um jardim floriu
nasceram flores íntimas
meus recalques
meus medos
alguma alegria
outra dor...
Podei umas, pisei outras
e encontrei-me...
Segurei-me à mão e saímos
sempre lado a lado
meus distúrbios e eu).




(Linaldo Oliveira - Livro REBENTO & REFLEXIVO - Pág.: 51 (1994))

quarta-feira, 20 de julho de 2011

MULHER

Mulher, sublime querida
pura tradução de vida


maior beleza que o mar

ternura, bálsamo de flor

por ti há de se entregar

e se morrer de amor.


Qual borboleta diáfana

teu sorriso é paz e cores

teu perfume trai as flores

tingindo as noites profanas

até do céu sempre emanas

teus encantos pelas ruas.

Oh, mulher! Tu és portanto

paixões efêmeras e nuas.


Mulher, tu és pensamento

busca, brilho e sedução

inspiradora de sonho

talvez sejas, eu suponho

de toda vida, a razão.




(Linaldo Oliveira - Livro Outras Palavras - Pág.: 73 (1992))
























terça-feira, 19 de julho de 2011

VIL BANQUETE

Chega tímido e sorrateiro
- Será que alguém está me vendo?
Procura no lixo com avidez, restos de comida:
Talvez?
 - Um osso, que bom!
   Não, está podre!


Que triste cena
tão repugnante espetáculo.


Um débio sorriso.
- Amanhã, voltarei...


... chega o dia seguinte.
Porém, sua esperança é perdida:
- Maldito cachorro!
  Chegou antes de mim.
  Mas, amanhã...


(Linaldo Oliveira - Livro Outras Palavras - Pág.: 23 (1992))